sexta-feira, 17 de abril de 2009

Anas Terra de Glorinha

Emocionou-me profundamente a reportagem sobre a premiação da Dona Alzira, de Glorinha, com o troféu Ana Terra. Desde os tempos em que meu avô dizia: - Vou à Vila! (quando se referia à Gravataí) ou – Vou à cidade! (quando se referia a Porto Alegre) eu já era capaz de discernir que, apesar de organizada de forma patriarcal, eram as mulheres que indicavam os rumos s serem seguidos pelas famílias. E, no tempo e no vento da história, são muitas as Anas Terra de Glorinha! Elas iniciam seu legado mais ou menos como a artista plástica Tânia Rouzas idealizou a menina Glorinha, que é símbolo da cidade: alegre, comendo bergamotas nas tardes de maio... (reportagem também publicada pelo Correio de Gravataí em 2007!) Com o passar dos anos, as “Anas ou Glorinhas” vão se forjando no cotidiano, nas lutas que hoje, para nós parecem tão triviais, mas que, a seu tempo, foram salutares para a edificação política, social e cultural de Glorinha. Lembrando a música: “São Anas, Marias e Anitas...” , posso citar algumas “Anas Terra” e o faço da forma como são conhecidas: a Minda, a Frauzina, a Nilza Soares, a Diva Corrêa, as professoras Ana, Belinha e Alcida, a Edília, a Dona Ely Otília - minha mãe... Algumas já não estão conosco. Mas seu legado é atemporal. Cada uma e tantas outras que eu deveria citar teve e tem papel fundamental: professoras, benzedeiras, agricultoras, ótimas cozinheiras, costureiras, bordadeiras, aplicavam injeções nos enfermos, auxiliavam as mamães no primeiro banho do recém nascido, enfim, fazedeiras de tudo um pouco, apaixonadas pela vida e por sua missão... Criaram Clubes de Mães, lutaram por eletrificação rural e por escolas para seus filhos, defenderam suas bandeiras políticas e seus times de futebol, fizeram dezenas de festas de Igreja, integraram as diretorias do Glorinha Futebol Clube e da Sociedade Lírica Brasileira, organizaram novenas, prepararam cultos, cantavam, faziam versos e poemas, e o principal: ao educar seus filhos, educavam toda uma comunidade.
Ventou muito forte e algumas de nós – Anas da geração seguinte, rumamos para Santa Fé... trabalhamos durante todo o dia e tentamos educar nossos filhos pelo menos um pouco parecido com a educação que tivemos. Mas preservamos a origem, a paixão pela vida, a luta por nossos ideais, a mobilização social constante, (um pouco da) devoção religiosa, a vontade de fazer o bem e de comer rosca de polvilho todos os dias... Parafraseando Carlos Drummond de Andrade, “principalmente, nascemos em Glorinha...” (Pelo menos no Registro – pois no meu tempo já se recorria ao Hospital Dom João Becker!!!)
A premiação para Dona Alzira transcende a sua pessoa e aos que com ela convivem: premia a história de um município e principalmente, valoriza a presença feminina que, desde o nome da cidade, já mostra a sua importância.
Parabéns Dona Alzira pelo reconhecimento! Parabéns Sérgio Cardoso, presidente do COREDE, pela indicação!
(Peço desculpas aos homens valorosos de Glorinha, entre eles, meu pai, que tiveram a honra e grandeza de acompanhar essas mulheres. Não os citei, mas o farei em outra ocasião!)