domingo, 3 de agosto de 2008

Viva a democratização da música!



Vivemos um tempo de rápidas, necessárias e positivas mudanças. Na educação, um grande plano de desenvolvimento nacional se avantaja sob nossos olhos e, apesar de alguns salários indignos (principalmente na rede estadual), nós, professores, aguardamos com esperança os novos dias que virão para a educação como um todo. Um aspecto educacional relevante, mas que foi sublimado ao longo dos anos, está de volta com força total: a educação musical! E não pensem que me refiro ao aprendizado em salinhas fechadas e isoladas onde,as crianças treinavam por horas a fio sequências musicais sem sentido, ou ao aprendizado de músicas para estabelecer rotinas escolares: meu lanchinho, meu lanchinho, vou comer... A música que se apresenta agora e viva, plena de significados e esperanças! São projetos que reúnem a herança musical - patrimônio acumulado pela humanidade e a construção individual e coletiva em relação ao que se entende, percebe e sente sobre música: uma união plausível entre Piaget, Paulo Freíre e KoeIlreuter, que me atrevo a caracterizar como música, construção e inclusão. Mas alguns podem perguntar: Onde está esta "nova" música? Respondo de peito aberto sobre os projetos de educação musical próximos a nós, e que estão resignificando a vivência musical das classes populares: CANTA BRASIL, em Canoas; MUSICALIZAÇÃO E INCLUSÃO, em Cachoeirinha; e em Gravataí, na rede municipal de ensino, os projetos CANTE NA ESCOLA, TOQUE NA ESCOLA e BANDAS ESCOLARES, com a existência das Bandas Novo Milênio, Getúlio Vargas e Santa Rita de Cássia - alguns destes projetos iniciados a partir do ano de 1998. Posso ainda citar o CORAL CARLOS BINA-SOGIL - uma iniciativa bem anterior e solitária de promover a música e a inclusão na escola pública. Durante muitos anos estudar música, integrar um coral ou uma banda, era privilégio de uns poucos. Atualmente professores, gestores públicos, empresas, compreenderam a importância de investir em educação musical. E nossa cidade tem sido assombrada com Festivais de Corais, de Dança, de Bandas Marciais ... Temos uma Banda Municipal! Já é quase impossível conceber uma solenidade em Gravataí sem pensar qual atração cultural fará a abertura ... Todos os dias ouve-se: tem um coral na escola tal, outra escola criou uma invernada artística, tem um grupo de pagode novo no bairro, meus alunos compõem letras de RAP ... Tudo isso porque descobrimos que a música é nossa! Ela nos acompanha desde antes do nascimento, nos sons ouvidos de dentro do Útero materno, e estará conosco até depois da vida, nos hinos entoados em nossa homenagem. Cada um de nós tem uma trilha sonora individual que traz de volta os bons e os saudosos momentos. Por isso, todos podemos fazer/vivenciar a música. E o dia ideal para começar é hoje: Ligue o rádio! Encontre aquele CD preferido! Varie estilos. Não tenha vergonha! Você pode começar no chuveiro. Ou tamborilando com os dedos na mesa ... Atreva-se! Em seguida, ligue para a FUNDAR, informe-se sobre as oficinas gratuitas. Nosso corpo pode muito mais que falar, ouvir, ler, mover-se ... Ele pode FAZER MÚSICA. E viva a democratização da música!
Ligia Ramos é pedagoga e regente do Coral Carlos Bina-SOGIL

No mínimo, inoportuna...

A abertura dos Jogos Pan-Americanos do Brasil comoveu-me como há muito não acontecia em frente à televisão. Afora o espetáculo de cores e formas e a adorável voz da Adriana Calcanhoto, as lágrimas de um homem tocaram meu coração. Sou sempre solidária ao ver alguém chorar, principalmente os mais humildes. E esse era o caso. O homem que eu vi chorar é um retirante, nordestino e pobre, sem muita instrução formal, mas que por força e obra do destino e da vontade da ampla maioria do povo, está pelo segundo mandato, presidente da República Federativa do Brasil. O improvável aconteceu: Lula recebeu uma vaia e não abriu os Jogos Pan-Americanos. Mas o que significou, naquele contexto, a vaia à autoridade constituída do Presidente da República?! E para o homem Lula, que impacto teve a vaia?! Em tempos de tantas acusações, telefonemas grampeados, Lula é acusado de quê mesmo? Em qual CPI ele é o investigado ou suspeito?
Para nossos filhos e alunos sempre ensinamos que existe momento próprio para todas as manifestações. Muitas vezes já fui questionada pelos alunos porquê vamos às assembléias sindicais bater nossas sinetas, e sempre respondi: Lá é o fórum apropriado. E em eventos solenes, com o Coral, já tive a oportunidade de ensinar: Este é o governador. Foi eleito pela maioria do povo. Deve ser respeitado. Até na Bíblia está escrito, em Eclesiastes 3:1 - “Debaixo do céu existe momento certo para todas as coisas(...)” . E aquele não foi um momento oportuno, assim como não foi correto nem oportuno que estudantes atirassem ovos no ex-presidente Fernando Henrique. Diversos amigos meus, de variadas sensibilidades políticas comentaram sobre a impropriedade e o constrangimento do ato, tanto em respeito ao ser humano, quanto pela falta de respeito a toda a nação que assistiu ao longo do último período altos investimentos para a realização do Pan, no Rio de Janeiro.
Nas lutas sociais e sindicais gritamos palavras de ordem, em solenidades, respeitamos mesmo a contragosto, a autoridade conferida pela maioria...Mas aquele público não me parecia muito acostumado a ter que lutar por seu direitos. (Ainda bem que foi no Rio de Janeiro! Morreria de vergonha se tivesse algum aluno meu lá!)
Vaiar Lula e debochar da língua do Presidente da Organização Desportiva Pan-Americana (ODEPA), o mexicano Manuel Vasquez Rana, a cada vez que ele usava o advérbio hoje em espanhol, demonstra o quanto ainda precisamos investir em educação no Brasil, não apenas através do PRÓ-UNI, PRÓ-JOVEM, livros didáticos para o Ensino Médio, FUNDEB... criados no governo Lula, mas educar e retomar valores nas famílias, nos meios de comunicação, nos estádios, nos ônibus, no cotidiano.
Não é a primeira vez que turbas insandecidas tomam atitudes que os envergonharão no futuro, mas devemos perdoá-los: Eles não sabem o que fazem...
Da próxima vez, façam o Pan no Rio Grande... Boa educação não nos falta!